Alguns de seus artigos
Não se pode negar o valor da boa palavra, o poder de influência que ela tem na construção do pensamento. Há coisas lindas, tão bem ditas! São verdadeiras descobertas que o gênio criador faz juntando palavras que, soltas, não teriam nem beleza, nem significação.
A palavra tem poder! Uns esperam com ela penetrar segredos, outros a revelação do desconhecido; há os que buscam a intimidade no reino da poesia ou da ciência. Há quem tente extrair dela a salvação de si mesmo, do mundo, como se só a palavra, sujeita às interpretações e aos desejos humanos, pudesse resgatar a culpa, o desvio, pulando etapas necessárias à conquista da compreensão. A palavra é uma coisa boa, e bem usada faz maravilhas na material vida humana.
Mas há outro tipo de linguagem de que a massa de viventes na Terra pouco sabe: a linguagem do pensamento.
Segundo o Espiritismo, o pensamento é a linguagem usada pelos espíritos no mundo invisível, próprio deles. Essa forma de comunicação talvez seja mais importante que a palavra, pois transporta as ideias na sua essência, como elas são, de espírito para espírito, impregnadas dos sentimentos que lhes deram origem. Não há como misturar o pensamento com a hipocrisia, com a mentira, como fazemos na Terra, com a palavra. Mas Deus faz as coisas certas e todos chegarão, mais cedo ou mais tarde, a testar esse método de comunicação de maneira bem usual, bastando para isso que morram.
Enquanto isso não acontece, no que se refira às nossas relações ainda bem materializadas, o exemplo é mais pujante que a palavra. Aquele é concreto, realizado; esta é concepção e está submetida ao filtro intelectual de cada um. A palavra insinua, sugere. O exemplo mostra como deve ser feito.
O bom exemplo contagia. Ver a boa ação nos faz ter esperança, inclusive em nós mesmos, pois sentimos vontade de copiá-la. Se o outro pode fazer coisas nobres, belas, justas, eu também poderei! Esta dedução nos motiva. Passamos a querer imitá-lo, queremos ser (ou ver-nos) comparados a ele. Ainda que não tenhamos a força suficiente para isso, o que vemos se fixa em nossa mente como ideia realizável. Agir com correção, generosidade e justiça em relação ao próximo e a tudo, requer maturidade do senso moral, na expressão feliz do educador Allan Kardec.
O exemplo, sendo moral ou factual, tem como testemunhas não somente os vivos, mas também os mortos, já que estamos o tempo todo cercados deles, conforme insinua a expressão evangélica (Paulo, Hebreus, 12:1). Este é um aspecto em que poucos pensam.
O que caracteriza o bom exemplo é o desinteresse moral e material de quem produz a ação; também a naturalidade, a isenção, o distanciamento de qualquer presunção pessoal.
O bom exemplo está associado, naturalmente, ao cumprimento do dever, a certo estado de equilíbrio da consciência, a um sentimento que transcende o comportamento civil e adentra no domínio da legislação divina ou natural. Talvez seja por isso que o bom exemplo cause forte impressão até mesmo ao néscio e faz respeitado o indivíduo que o prodigaliza.
Cláudio Bueno da Silva
Cláudio Bueno da Silva
Não há como negar que os cursos regulares de Espiritismo ministrados no centro espírita são um meio eficaz de se conhecer a doutrina que os Espíritos Superiores transmitiram a Allan Kardec, como um importante legado à humanidade.
Reunindo pessoas interessadas em aprender o que os Espíritos disseram aos homens, esses cursos, além de ensinar o Espiritismo, têm o poder de estreitar os laços fraternos entre pessoas, preparando continuamente novos colaboradores e tarefeiros para as diversas áreas de serviço da casa.
O centro espírita é local de estudo e trabalho voltados para a educação espiritual dos que o procuram. Uns vêm buscar o consolo e a orientação passageiras e não deixam de ser atendidos. Mas boa parte dos seus frequentadores quer conhecer o Espiritismo e, assim, melhorar as próprias condições espirituais.
Nesse ponto é que os cursos sistematizados são de grande importância. Neles se estudam os fundamentos que compõem a estrutura da doutrina (imortalidade da alma, reencarnação, pluralidade dos mundos etc.) e inumeráveis temas que se desdobram, ligados a esses fundamentos. A partir daí, enquanto se estuda séria e devotadamente, vai-se ocupando com tarefas compatíveis com as possibilidades de cada um, colaborando com o funcionamento do "educandário da alma", no dizer do Espírito Emmanuel.
Os cursos regulares bem orientados dão conta de formar trabalhadores e futuros dirigentes, tanto quanto médiuns, com boa base doutrinária, indispensável para o exercício de um trabalho seguro e profícuo. Allan Kardec, nosso principal orientador doutrinário, escreveu sobre isso em "Obras Póstumas", segunda parte, dizendo: "Um curso regular de Espiritismo seria professado com o fim de desenvolver os princípios da ciência e de difundir o gosto pelos estudos sérios. Esse curso teria a vantagem de fundar a unidade de princípios, de fazer adeptos esclarecidos capazes de espalhar as ideias espíritas e de desenvolver grande número de médiuns. Considero esse curso como de natureza a exercer capital influência sobre o futuro do Espiritismo e sobre suas consequências".
Portanto, em vista da importância e seriedade da questão, e da responsabilidade que compete aos dirigentes e trabalhadores no bom desempenho das suas atividades, implantar um curso regular de Espiritismo no centro espírita significa atender ao apelo de Allan Kardec, auxiliando na propagação dos princípios espíritas na Terra.
Cláudio Bueno da Silva
Allan Kardec foi um grande escritor. Sua especialidade não era a literatura propriamente dita, todos sabem, mas deixou escritos magníficos que servem para qualificá-lo como um homem de letras. Foi um articulista e ensaísta de grandes recursos, dominando a palavra, de modo prático, a serviço das ideias.
Essas qualidades podem ser observadas fartamente, na Revista Espírita, publicada mensalmente, de 1858 a 1869, sob sua direção, onde se acham artigos inumeráveis do codificador.
Seus discursos, pode-se dizer, são verdadeiros ensaios sobre temas pertinentes à Doutrina Espírita, como por exemplo, os contidos no livro "Viagem Espírita em 1862" (Casa Editora O Clarim - Matão - SP) - uma sondagem que fez nas cidades francesas de Lyon e Bordeaux, sobre o avanço das ideias espíritas e a organização do movimento que começava a se articular.
Seus textos, sempre muito claros e sérios, ajudando a fundamentar toda a estrutura teórica da Codificação, abrangendo Ciência, Filosofia e Moral, têm o cunho do verdadeiro interesse humanitário. Nada do que escreveu poderia ser descartado como inútil àquilo que pretendia concretizar, em franca colaboração com Espíritos reconhecidamente superiores: organizar, sistematizar e dar a conhecer ao mundo a Doutrina dos Espíritos, projeto este da mais alta significação para o progresso humano.
Allan Kardec não se preocupou com a beleza do estilo nem com a perfeição da forma, embora disso não se tenha descuidado, apesar da sobrecarga de trabalho que lhe exigia rigorosa disciplina e enorme vigor intelectual. Procurou, sim, ordenar as ideias com exatidão, de modo que servissem ao esclarecimento e à informação sobre assuntos desde sempre palpitantes para o homem, como a imortalidade da alma, a reencarnação, a comunicação entre vivos e mortos, a multiplicidade dos mundos habitados, etc. Afinado com o pensamento dos Espíritos superiores, não só endossou seus pareceres como fez importantes referências sobre as questões morais cruciais para o entendimento das mazelas humanas e a destinação do homem.
Allan Kardec não fez ciência corporativa; não filosofou nos moldes acadêmicos; não foi também um moralista, na acepção cediça que conhecemos hoje. Mas tratou de tudo isso sob o ângulo do real interesse para a evolução do espírito humano. Um homem preparado, escolhido para uma tarefa da maior relevância, segundo depoimento dos próprios espíritos. Deixou de lado as convenções humanas, o falso, o fútil e o irrelevante, para contribuir, decisivamente, com a implantação na Terra de um dos maiores complexos do conhecimento, que ele próprio qualificou de Espiritismo.
Cláudio Bueno da Silva
A União das Sociedades Espíritas de Osasco (USE) está realizando neste ano de
2013 - entre abril e maio -, a trigésima segunda edição da Feira do Livro Espírita.
Realmente, um acontecimento marcante para uma cidade de quase 700 mil habitantes,
que se desenvolveu muito desde a sua emancipação em 1962, e que tem na sua
principal via comercial - a Antonio Agú - o segundo maior comércio de rua do Brasil,
com circulação de aproximadamente 200 mil pessoas por dia em datas festivas. Estes
números só são superados pelo movimento de público da Rua 25 de Março, em São
Paulo, conforme dados colhidos no site da Câmara Municipal de Osasco.
Há trinta e dois anos, portanto, os espíritas de Osasco têm se empenhado no trabalho
de aproximar o livro espírita da população da cidade e com isto, facilitar o acesso das
pessoas à cultura do Espírito, questão hoje em dia indispensável. Uma feira como esta,
ao ar livre, expondo centenas de títulos, põe ao alcance das mãos de milhares de
transeuntes a oportunidade de conhecer o Espiritismo e tudo o que ele representa como
restaurador e revelador autêntico do Evangelho de Jesus.
Pode-se avaliar a responsabilidade dos espíritas quanto a este compromisso anual, já
pela enorme quantidade de pessoas que circulam em torno das bancas, no fluxo
contínuo do "Calçadão", já pelo grande número de perguntas, dúvidas, apelos, que
muitas fazem, recebendo orientação e encaminhamento adequados.
Além de excelente meio de divulgação da doutrina, a feira do livro se constitui num
evento agregador dos espíritas, criando laços sinceros de amizade e união. O
trabalhador da feira sente-se gratificado não só por vender livros de elevado conteúdo,
mas por estar junto dos irmãos de ideal, atendendo às carências e necessidades
espirituais do próximo.
Na feira do livro, os espíritas se reúnem, os grupos se aproximam, os espíritos se
unem aos homens, o céu baixa à Terra para tirar a luz de sob o alqueire e deixá-la
expandir-se, iluminando consciências. Equipes espirituais, alinhadas com a moral
cristã, aproveitam a boa vontade dos homens e se misturam a eles, ombro a ombro, na
grande festa de divulgação da luz e da verdade, através do livro.
Participar desta festa já é um prêmio, é o salário a que se refere a lição dos
"Trabalhadores da última hora". Por isso os espíritas querem repartir, com quantos
queiram, o conhecimento que o Espiritismo traz para a implantação do Reino de Deus
na Terra.
Cláudio Bueno da Silva
Pode-se dizer que o primeiro centro espírita da Terra foi a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, fundada por Allan Kardec, em primeiro de abril de 1858.
A extensão que as crenças espíritas já tomavam em muitos lugares do mundo, "fazia desejar-se vivamente a criação de um centro regular de observações", escreveu o codificador na Revista Espírita de maio do mesmo ano.
"A Sociedade cuja formação temos o prazer de anunciar - continua o mestre de Lyon -, composta exclusivamente de pessoas sérias, isentas de prevenções e animadas do sincero desejo de esclarecimento", iniciava suas atividades com o propósito de "prestar incontestáveis serviços à constatação da verdade".
Além do caráter de pesquisa, rigorosamente dirigida e coordenada por Allan Kardec, a "Sociedade Parisiense" se predispunha a prestar informações aos interessados pela doutrina espírita, que poderiam também comunicar suas próprias observações.
Boa parte da formulação teórica da doutrina nasceu na "Sociedade Parisiense", que era um verdadeiro laboratório de estudos transcendentais em que o método de pesquisa eram os diálogos com os espíritos, genialmente conduzidos por Allan Kardec, com o concurso de excelentes médiuns.
Milhares de centros espíritas foram criados desde então, no mundo inteiro, e suas características de atuação sofreram transformações com o tempo, incorporando aspectos ligados a cultura de cada região, submetidas também às novas exigências do mundo atual, mas sempre com o propósito de instruir os homens nas questões espirituais e fazê-los compreender e praticar o "amai-vos uns aos outros" que Jesus ensinou.
No Brasil não foi diferente e o Espiritismo granjeou milhões de adeptos, impulsionado por homens de grande envergadura moral que trabalharam incansavelmente na sua implantação e disseminação. Não há cidade neste país que não possua um centro espírita, pelo menos. E em todos eles a bandeira da caridade hasteada por Allan Kardec, foi também alçada e se constituiu no símbolo do trabalho espírita.
E assim, com muito estudo e trabalho, o centro espírita moderno no Brasil e no mundo continua cumprindo sua missão de divulgar a verdade dos ensinos de Jesus entre os homens, combatendo a incredulidade e o materialismo através das orientações doutrinárias do Espiritismo.
Cláudio Bueno da Silva
O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, em 12 de abril, por oito votos a dois, não imputar crime aos casos de interrupção da gestação de fetos anencéfalos.
As leis brasileiras proíbem a prática do aborto, com exceção de dois casos específicos: quando a gravidez oferece risco à vida da mãe e quando a gestação é resultado de estupro, considerado crime hediondo.
Ao anunciar o seu voto, um dos ministros do Supremo apontou contradições na Constituição Brasileira e deu um depoimento patético, revelador do que a inteligência civilizada oficial pensa ser a vida, ou seja, um processo subjugado aos conceitos limitantes da matéria: "É estranho criminalizar o aborto, a interrupção voluntária do parto, se não há definição do que é a vida humana. Sobre o início da vida, a Constituição é de um silêncio de morte", disse.
O mesmo ministro acrescentou: "O feto anencéfalo é uma crisálida que jamais se transformará em borboleta porque não alçará vôo jamais". Isso quer dizer que a vida para ele começa mesmo, só depois do parto, quando o feto se tornaria pessoa.
A opção de interromper a gravidez será unicamente da mulher, disse o ministro. Mas, convenhamos que o aval jurídico explícito estimulará decisivamente a muitas delas a praticarem o aborto.
Quem deve ou não viver
Considera-se sensata a posição laica do Estado no que tange às questões religiosas. Todavia, o Estado não deve ter ingerência sobre o direito universal à vida, no que se refere a quem deve ou não viver. Ainda mais quando essa interferência se pauta em modelos conceituais que desconsideram a alma como integrante do ser, no período gestatório, desconsiderando também, com argumentos jurídicos unilaterais, as muitas conclusões a que grandes nomes da Ciência têm chegado em torno das questões do Espírito.
Decidir sobre quem deve ou não viver não compete à criatura e sim ao Criador, independentemente da opinião de pequeníssima porcentagem de pessoas no mundo que não atribuem a Ele esse poder.
Se o Estado não tem religião, não lhe compete ser amoral, todavia. E a questão da essência da vida vai muito além do domínio exclusivo da Religião, abrangendo a mais profunda reflexão ética que, diga-se, qualquer leigo pode manifestar.
Dois ministros votaram pró-vida
Os dois votos contrários à descriminalização do aborto de anencéfalos, portanto pró-vida, foram dos ministros Ricardo Lewandowski e Cezar Peluso. O primeiro afirmou que "a legislação prevê a punição em casos de aborto induzido por causa do feto malformado. A descriminalização seria, portanto, inconstitucional". [...] "a lei sobre o tema deve partir do Parlamento, e não do Judiciário", completou.
O ministro Peluso, por sua vez, foi enfático: "Não se pode impor pena capital ao feto anencefálico, reduzindo-o à condição de lixo ou de ‘alguma coisa imprestável’".
A opinião de Joanna de Ângelis
Pouco tempo antes da decisão polêmica do STF, o Espírito Joanna de Ângelis, através do médium Divaldo Franco, manifestou-se sobre o tema anencefalia, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador-BA.
Dispensável frisar o alto interesse pela causa humana e o compromisso com a Verdade que esse Espírito tem demonstrado nos seus trabalhos.
Depois de informar que os anencéfalos são produto das agressões que se autoimpuseram na região do crânio em vida anterior, afirmou que "É inevitável o renascimento daquele que assim buscou a extinção da vida, portando degenerescências físicas e mentais, particularmente a anencefalia" e "que necessitam viver no corpo, mesmo que a fatalidade da morte após o renascimento reconduza-os ao mundo espiritual".
Segundo Joanna, "muitos desses assim considerados, no entanto, não são totalmente destituídos do órgão cerebral". Sugere que há patologias mais ou menos acentuadas, com áreas maiores ou menores do cérebro preservadas ou constituídas, como também conclui a Ciência.
Igualmente qualificando a interrupção da gestação dos anencéfalos como crime hediondo, a mentora enfatiza: "Têm vida sim, embora em padrões diferentes dos considerados normais pelo conhecimento genético atual..."
Num trecho da mensagem, Joanna tem a mesma visão do ministro Peluso, do STF: "Não se trata de coisas conduzidas interiormente pela mulher, mas de filhos, que não puderam (1) concluir a formação orgânica total".
O inadiável processo de reparação
Joanna de Ângelis declara que nos casos de anencefalia "a genitora igualmente não é vítima de injustiça divina ou da espúria Lei do Acaso, pois que foi co-responsável pelo suicídio daquele Espírito que agora a busca para juntos conseguirem o inadiável processo de reparação do crime, de recuperação da paz e do equilíbrio antes destruído".
Afirma ainda que a descriminalização do aborto do anencéfalo, facilitando a sua aplicação, pode abrir perigoso precedente "para a legitimação de todas as formas cruéis de abortamento".
Assim, o segmento espírita se posiciona contra o aborto dos anencéfalos porque sabe das complexas implicações espirituais que enredam as pessoas envolvidas neste drama. Não é insensível à dor da mãe neste estado, ao contrário, oferece consolo com o auxílio do esclarecimento, que tem caráter preventivo.
O segmento espírita sabe que o livre-arbítrio dá totais condições para a mulher optar ou não pelo aborto, mas sabe também que a sua felicidade ou infelicidade futura dependerá dessa escolha.
(1) Grifado pelo autor do texto.
Saiba mais em: http://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com.br
Por Claudio Bueno
O Diário de São Paulo, de 31 de maio de 2009, publicou matéria interessante assinada por Cristina Christiano. Uma mensagem do além, psicografada na cidade mineira de Divinópolis, levou o ex-ator da TV Globo Marco Nicolatto, a abandonar as novelas para se dedicar à divulgação do Espiritismo no teatro. Assim, formou o grupo Operários do Palco, em 2002 e, desde então, já encenou várias peças sobre o tema: O Amor Jamais Te Esquece, A Força da Bondade, As Vidas de Emmanuel, Allan Kardec-O Cientista do Invisível, E a Vida Continua, dentre outras.
Formado em psicologia e filosofia, Marco Nicolatto conta que após ter feito novelas na TV como "Torre de Babel" (1998), "Anjo Mau" (1997) e outros trabalhos, decepcionou-se com o clima que viveu nesse ambiente artístico, contrário ao seu modo de ser. Pensou em desistir da carreira. Mas uma mensagem ditada por Batuíra (1839-1909), importante figura do movimento espírita brasileiro e que também foi ator, mudou seus planos. Na mensagem, o espírito Batuíra diz a Marco que não desistisse do trabalho, e foi enfático: "Vá e faça", já prevendo o novo caminho que o ator deveria percorrer.
Marco conta que o começo foi difícil, até para conseguir atores, mesmo espíritas, pois "muitos ainda se envergonham de falar de Jesus Cristo". Mas admite que o teatro transformou a todos e hoje, antes de entrar em cena, o grupo lê "O Evangelho Segundo o Espiritismo" e agradece por estar lá. Diz que o trabalho tem recebido amparo "do alto" e que isso tem estimulado a todos a agir na vida com os mesmos valores superiores que representam no palco.
Cláudio Bueno da Silva
Se a vida humana se resume a uma existência; se o corpo é o elemento principal de que se deve cuidar durante a curta viagem do berço ao túmulo; se a alma, na Terra, é uma coadjuvante do cérebro; então, faz sentido viver para o mundo, tão somente. Faz sentido mergulhar de cabeça na matéria e tentar extrair dela todo o néctar dos prazeres que se possa conseguir. Nem que para isso seja preciso afastar do nosso caminho, à força, quem nos tente impedir. Se o futuro é incerto e nebuloso, por que se preocupar com ele?
Embora nem todos pensem assim, a maioria das pessoas age assim.
Mas, atenção! E se não for bem isso? E se a vida humana abranger mais que um corpo de carne com seus atavismos? Se a alma for mesmo imortal e entrar no outro mundo com as mesmas características que possuía na Terra? E se ela for chamada, depois da morte, a continuar vivendo em sociedade, em cumprimento às leis universais pelas quais não se interessou em conhecer durante a vida física?
Então, será preciso pensar um pouco. Após a morte, o corpo se decompõe: isso é fato. Sobrevivendo, a alma precisará ser alguma coisa. Não é mais fácil aceitar que ela continue a ser quem era, ou seja, uma pessoa, um indivíduo, com sua inteligência, seus sentimentos, com sua história própria, seus desejos — como antes?
A ideia de que a vida continua, sem cessar, não é bem mais reconfortante e alentadora do que a que diz: "Morreu, acabou"?
"Se a alma é imortal" — disse o filósofo Sócrates — "não é sábio viver com vistas à eternidade?"
(1). A filosofia espírita convida o homem a cuidar bem de si mesmo, da sua alma, cujo anseio íntimo é o progresso, a perfeição, a vida eterna. Nesse sentido, Eça de Queiróz, através da psicografia de Chico Xavier, também convida à reflexão: "Procura as riquezas da alma, os tesouros psíquicos que te servirão na Imortalidade" (2).
Quanto à matéria, esta merece do homem apenas os cuidados precisos para as necessidades da vida.
(1) "O evangelho segundo o espiritismo", Resumo da Doutrina de Sócrates e Platão, LAKE Editora.
(2) "Eça de Queiroz, póstumo", Fernando de Lacerda/Francisco C. Xavier, FEB, 2ª edição, sem data.
Podemos ler excelente artigo de Allan Kardec, na Revista Espírita, abril de 1859, intitulado "Quadro da vida espírita". O mestre demonstra sempre alta capacidade como escritor, e sua visão abrangente sobre os assuntos causa a impressão de que nada lhe escapa à análise justa e perspicaz.
É certo reconhecer em Allan Kardec um espírito evoluído, preparado para a exposição das melhores ideias. Claro que os espíritas sabem disso, mas nunca é demais realçar suas qualidades, como estímulo para que se leia, cada vez mais, sua obra, seus ótimos trabalhos, principalmente os publicados na Revista Espírita, de 1858 até 1869.
No artigo que cito, Kardec trata da situação dos espíritos na erraticidade e das várias formas de compreensão moral a que estão submetidos, segundo o nível de adiantamento em que se encontram. É um escrito bem esclarecedor.
Sem perder o fio condutor das ideias, Kardec costuma, em vários dos seus textos, fazer descansar um pouco o tema central e excursionar por reflexões periféricas, mas que não chegam a fugir do assunto que desenvolve. Ilusão, se pensarmos que ele divaga.
Ao contrário, estão aí, nessas aparentes digressões, belos pensamentos e bons desenvolvimentos. Logo à frente, depois dessas "variações", retorna seguro à ideia central e percebe-se que não houve prejuízo do texto e, sim, enriquecimento temático.
Como diria Kardec, "voltemos ao nosso assunto". Em "Quadro da vida espírita", ele explicita a vida dos espíritos mais elevados, descendo na hierarquia aos menos elevados, passando pelos espíritos vulgares, nem bons nem maus, até chegar ao "que se pode chamar de a escória do mundo espírita, constituída de todos os Espíritos impuros, cuja preocupação única é o mal". A esses últimos, descreve-os como sofredores que desejam que todos sofram; são invejosos de toda superioridade; investem contra os homens, excitando-lhes as paixões ruins; instigam a discórdia, separam os amigos, provocam rixas, espalham o erro e a mentira, em suma, o que os domina é o desejo de desviar do bem.
O desfecho do artigo é interessante e exatamente o que se poderia esperar de um homem totalmente compromissado com a verdade e com o esclarecimento dos seus semelhantes, como foi Allan Kardec. A desigualdade de níveis evolutivos entre os habitantes da erraticidade, descrita no artigo, e as características, digamos, abomináveis da "escória do mundo" espiritual poderiam indignar a maioria: "Mas por que permite Deus que assim seja?" E Allan Kardec esclarece, encerrando: "Deus não tem que nos prestar contas. Dizem-nos os Espíritos superiores que os maus são provações para os bons e que não há virtude onde não há vitória a conquistar. Aliás, se esses Espíritos malfazejos se acham na Terra, é que aqui encontram eco e simpatia. Console-nos o pensamento de que, acima deste lodo que nos cerca, existem seres puros e benevolentes que nos amam, nos sustentam, nos encorajam e nos estendem os braços, atraindo-nos, a fim de nos conduzirem a mundos melhores, onde o mal não encontra acesso, desde que saibamos fazer aquilo que devemos para o merecer".
Há muitos anos atrás (1982) escrevi um artigo cujo título era "Chorando de barriga cheia". Nele discorria sobre o comportamento social e moral dos que, mesmo tendo como e com o que viver em períodos de crise, reclamam de tudo e de todos, achando sempre que os direitos são seus e os deveres são dos outros. Mais ou menos como aquele que vê uma casca de banana no meio da calçada e não se importa nem um pouco, pois não foi ele quem a jogou ali.
Vivíamos os estertores do chamado regime de exceção no Brasil, e por consequência, à beira da retomada do processo de redemocratização do nosso país, que se deu em 1985. Havia uma crise brava e a desorganização predominava em muitos setores da economia e da política. No entanto, o sofrido povo brasileiro demonstrou vontade de mudar e a duras penas, mas sem violência, se organizou e colaborou na busca da normalização democrática, que vem se desenvolvendo a pouco e pouco desde lá.
Embora a forte crise afetasse a vida de todos os brasileiros, principalmente a dos mais pobres que sempre foram a grande maioria, houve muita gente que se aproveitou da comoção social, e até podemos dizer, a fomentou para tirar vantagens da situação caótica.
Apesar do aperto financeiro que rondava as famílias brasileiras, em linhas gerais não faltava o mínimo necessário para viver com dignidade àqueles que levavam a vida a sério, trabalhando, se esforçando e lutando para contornar as dificuldades. Posso afirmar isso com convicção, pois fazia parte daquela maioria e convivia socialmente com muitas famílias do mesmo padrão simples. É preciso considerar, no entanto, as muitas exceções espalhadas por várias regiões do Brasil de então, regiões aonde o progresso não chegara e que raramente eram atendidas pelas autoridades públicas e que também por isso viviam uma realidade bem mais difícil.
Nestes últimos trinta anos o Brasil melhorou em muitos aspectos. Avaliando-se o conjunto se percebe esse avanço. Analisando-se as partes, vê-se o quanto há ainda por fazer e alcançar. Mas isso é natural num país em desenvolvimento. O progresso não se dá homogeneamente, considerando-se a heterogeneidade de caracteres de um povo como o brasileiro, espalhado em grandes regiões territoriais, cada uma com suas características e peculiaridades próprias referentes à geografia, clima, costumes, tradições, etc.
O fato é que sempre houve insatisfeitos e no meio deles os "eternamente insatisfeitos", que fazem grande barulho. O ruim é quando estes últimos são formadores de opinião, com influência em grandes ou pequenos círculos. É compreensível que pessoas e grupos se organizem legitimamente para encontrar soluções que lhes atendam.
Mas a liberdade de reivindicar não dispensa o dever de respeitar os parâmetros do direito comum. A violência, não só física como também moral, nos afasta do direito, nos tira a razão.
Muitos não se contentam nunca, com nada, de onde se percebe que a insatisfação teimosa anda junto com o egoísmo. O insatisfeito sistemático quer sempre mais para si, não para o outro, ainda mais se este for de outra condição social, de outra raça, de outra região. Nesse estágio se chega ao preconceito, que só agrava as coisas.
Há muito que melhorar, sim, em nosso Brasil de hoje, pois não podemos continuar vivendo "de costas" para a ética e os valores construtivos. Não podemos ser coniventes com injustiças flagrantes. Não podemos calar ante aqueles que se julgam imunes às leis e que não são só os políticos. Na realidade, os problemas brasileiros (quem sou eu para avaliá-los?) não derivam apenas da política ostensiva, mas principalmente (em essência) do comportamento antiético individual quase generalizado, o que caracteriza a imperfeição de comandantes e comandados. E a reflexão sobre isso, que passa também pela reforma do modelo de Educação que temos, compete a cada um de nós, brasileiros comuns. A revolta e o pessimismo sistêmicos que se estão instalando no Brasil são altamente prejudiciais a todos e não atenderão às nossas necessidades.
Tem aumentado muito a pauta de reivindicações sociais ao mesmo tempo em que cresce desafiadoramente o empuxo egoísta das exigências de toda ordem (nem todas válidas), mascaradas na forma de direitos. Há um dito popular que diz: "Quanto mais se tem, mais se quer". Será errado associar essa insatisfação ao auge das tendências consumistas orientadas pelo materialismo e pela incredulidade que tanto mal fazem ao Espírito? Não estará aí a causa que faz emergir no cotidiano social o que realmente ainda somos como pessoas?
Lembro aqui o excelente texto "Credo espírita" ¹, de Allan Kardec, o coordenador do Espiritismo, um homem profundamente verdadeiro e humilde, além de grande humanista, onde ele diz: ..."A bondade das leis está em relação com a bondade dos homens" ... "A lei civil não modifica senão a superfície; a lei moral é que penetra no foro íntimo da consciência e o reforma" ... "Por melhor que seja uma instituição social, se os homens forem maus, hão de falsificá-la e desnaturá-la para que a explorem em seu particular proveito". Afirma ainda "que é rico quem se satisfaz com o necessário".
"Mas isso seria a inércia, a passividade!", dirão. De forma alguma. Viver em sociedade não é só ver atendidas as expectativas materiais, individuais ou de grupos.
Mesmo que todas elas fossem realizadas, a insatisfação continuaria. Examinemos o exemplo de países ultra desenvolvidos onde aparentemente "não falta nada". Seus habitantes não fazem guerras, não têm conflitos, não se suicidam, não espionam, não corrompem, não se prostituem?
"Deus fez o homem para viver em sociedade" (...) "E devem todos concorrer para o progresso, ajudando-se mutuamente" ². Ninguém avança para a paz, "para o melhoramento do estado social" destruindo, agredindo, difamando, instigando revolta e insubordinação. Esse comportamento retarda as verdadeiras conquistas.
Se compreendermos a vida como o caminho para a transcendência, para a evolução do Espírito (o que é a pura verdade) precisaremos exercitar o desprendimento, o desapego, a abnegação, ou seja, seguir a direção contrária daquela em que muitos pensam encontrar a satisfação plena. Evoluir espiritualmente é exigir mais de nós e menos dos outros.
Portanto, otimismo e esperança são mais que necessários no momento atual. As crises costumam oferecer oportunidades de crescimento e amadurecimento para os homens e as instituições. Somos uma grande nação, basta enxergar. Temos muito que aprender trabalhando. Nosso povo precisa sair da infância e realizar os sonhos próprios da juventude forte e saudável. A maturidade virá com o tempo. O progresso não para e a consciência serena e pacificada nos levará à construção do país feliz que tanto almejamos e que será reconhecido em toda parte como "Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", se assim tiver que ser.
¹ Obras Póstumas, Allan Kardec, 2ª parte, LAKE.
² O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, livro terceiro, "As leis morais", LAKE.